Prevenção de Perdas
Muitos varejistas com que trabalho se incomodam quando digo que as duas áreas mais importantes para o lucro deles são a área comercial e a de prevenção de perdas, e não as lojas. Há um certo exagero nisso, é óbvio, mas serve para marcar uma posição que acho interessante. O preço de venda é dado pelo mercado, pela concorrência e pela percepção de valor do consumidor, então o que temos que garantir é a execução perfeita na loja para garantir o faturamento e para que os consumidores continuem sempre a visitar-nos. Até aí resolvemos uma parte do negócio. Para garantir o lucro, e aí também é fácil concordar, temos que ter uma área comercial eficiente que compre bem os produtos de revenda. O problema aparece quando começamos com o faturamento, deduzimos impostos da venda, custos de venda, outros custos diretos e fazemos um inventário para descobrir que parte do estoque que deveria estar lá, simplesmente desapareceu. Aí pegamos toda essa diferença, valorizamos e atribuímos genericamente a uma linha de perdas ou quebra. Aliás, há varejos de que sequer fazem essas contas assim, mas apuram somente o resultado financeiro e tudo o mais atribuem genericamente ao custo da operação.
Quando paramos para estudar esse número, o que o compõe e suas causas, é que encontramos a oportunidade que mencionei acima. Considerando o varejo de supermercados, que trabalha com margens líquidas de 1% a 3%, em geral, e que têm perdas que variam de 1,5% a 2,5%, dependendo de como medem, o comentário que fiz lá no início começa a fazer sentido. Há varejistas que têm de perdas o mesmo que têm de lucro.
Como, então, evitamos as perdas? Primeiro vamos categorizá-las em identificadas e não identificadas. Algumas sabemos na hora que acontecem, como quando quebra uma garrafa de alguma coisa. Mesmo assim, às vezes não as computamos como deveríamos. Veja o exemplo de uma empresa que vende celulares e aceita uma troca indevida de um celular quebrado, que não será reembolsado pela operadora. Deveria ir para perdas diretamente, mas às vezes fica dormindo em algum lugar da loja, para evitar de ter que reconhecer a perda, até que termina saindo por obsolescência, vendido como sucata. Sem contar que nesse caso, como o produto ainda estaria presente no estoque da loja, não haveria reposição, causando também perda de vendas por falta de estoque hábil a ser comercializado. Impossível fazer a gestão correta desta maneira.
Depois de identificarmos e segregarmos as perdas identificadas, contamos o estoque e vemos que o estoque lógico está diferente do estoque físico. A diferença? Perdas! Direto na última linha. Essas perdas não identificadas são causadas, em grande parte, por problemas operacionais, processos equivocados ou fraudes. Identificar essas causas é meio caminho para resolvê-los.
As empresas com que temos conversado apontam que a prioridade no combate as perdas são os Centro de Distribuição. Opção lógica pelo volume que transacionam e o impacto que terão as perdas - e a redução delas - em função disso. Perdas nos CDs geralmente acontecem por erros ou fraudes grandes. Um pequeno erro em um processo pode gerar perdas gigantescas por obsolescência, por exemplo. No caso de erros e fraudes nos CDs as fragilidades que eram oportunidades estão no recebimento e na expedição. No recebimento há casos onde o operador dá a entrada da carga inteira, mas parte fica no caminhão..